domingo, 1 de fevereiro de 2009

UM GRANDE POBLEMA


Serafim era um garoto de doze anos muito esperto, morava no sobrado muito velho, precisando urgentemente de uma reforma. Tinha amigos, porém tinha uma grande dificuldade ao pronunciar palavras com “pr”, e esse poblema o chateava muito, uma vez que seus colegas riam e zombavam dele. Uma certa noite, ele fez um pedido a Deus: Oh Deus! Permita-me ser o falante mais correto da língua portuguesa, quero poder usar as palavras sem erro algum, quero não ter mais este poblema amanhã.
Deus ouviu suas preces. Ao raiar o outro dia, o menino que tinha poblema passou a ter um grande problema: seu modo de falar ficou muito diferente dos seus colegas. Passaram semanas, e cada dia Serafim passou a ser solitário; seus amigos o abandonaram, porque ele passou a corrigi-los, e a todos os seus colegas. Até a sua professora de português não foi exceção. As pessoas que ouviam suas palavras não o entediam, pela complexidade delas.
O tempo andou com pernas muito longas, a comunidade dele não o agüentava mais, o menino passou a interferir ainda mais em tudo o que se relacionava à língua portuguesa.Os vizinhos, enfurecidos, se reuniram na associação dos moradores, decidindo mandar uma comitiva e impor aos pais de Serafim a entrarem em contanto com um psiquiatra.
Uma multidão enfurecida de curiosos se formou para ver o espetáculo desenrolar. Tinham todo esse furor porque todos já tinham sido corrigidos pelo garoto. Olhavam o percurso que a comitiva fazia, com um prazer sádico — que está inerente ao ser humano —, o desejo e anseio de ver a queda de seu semelhante. Quando a comitiva entrou na casa destes pobres coitados, só se ouvia o brado de vitória desta grande multidão. Este estranho grupo já chegou dando o ultimato, de que amanhã eles tinham que levar seu filho ao psiquiatra; não tinham a menor piedade daqueles pobres pais, suas decisões foram baseadas em ressentimentos. Os pais de Serafim, tristes e abatidos, aceitaram a malfadada proposta.
Serafim, quando soube disso, correu pra seu quarto. Desesperando e chorando pediu a Deus: Oh Senhor!quero ser um problema como antes, quero errar mais do que nunca na língua portuguesa; me livre deste fardo, pois é muito pesado para mim. Não me deixe relegado às trevas densas deste problema. Deus explicou para ele: Não posso atende-lo, pois não mudo, concedi seu pedido porque ouvia teus clamores todo dia. Agora se contente contigo mesmo e aquietes teu coração.Nesse instante, Serafim acordou, e descobriu que tudo passou de um sonho. Ele aprendeu uma grande lição: o erro em excesso é exagero; o certo absoluto é exclusão, pois no mundo de defeitos, o erro também é a perfeição.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Salsichão e a azeitona


Encontraram-se o salsichão e a azeitona. Ele viu uma musa verdinha, novinha, ainda com aquela redondeza infantil; já lhe tinham dito que era muita comida para o seu salsichão, mas ele dizia: — Nunca ouviram a Lei de Newton? Os opostos se atraem!... E assim, a sua auto-estima subia ao máximo.
Estavam dentro de uma geladeira, numa temperatura média de congelamento. O clima vibrava entre os dois. A azeitoninha nunca havia visto um salsichão tão enorme e protuberante.
Foi então que ele tomou a iniciativa, aproximou-se e deu-lhe uma lambidela. Ao sentir a sua lambidinha, ela não se conteve: liberou o seu desejo contido, mordiscou-o todinho, até ao ponto de deixá-lo todo marcado. Depois, provou daquela crosta bem vermelhinha, arrancando um bocadinho da pele sedosa e lisinha, fazendo-o gritar de deleite. Quando estavam no ápice da união, foram interrompidos por um barulho. Olhando para o lado, viram um grande palito troncudo. Era tão robusto, que nem parecia um palito de churrasco, parecia mesmo era com um galho de arbusto.
O palitão, todo animado, mandou que eles continuassem o idílio e disse para que não ficassem tensos, pois ele adorava penetrar em carnes. O salsichão, sentindo esta alfinetada, ficou azul, já que percebera que uma coisa grossa queria nele penetrar. Neste instante, a porta da geladeira se abria. Avistaram um homem. Era Seu Albertino que abria a porta de sua geladeira. Vendo aquele palito agigantado, um salsichão e uma azeitona, achou esquisito, pois não se lembrava de ter colocado o palito ali. Pegou o palito, jogou-o no lixo, fechando a porta da geladeira. Porém, mudando repentinamente de idéia, abriu outra vez a sua Brastemp.
O casal vê uma mão vindo em sua direção. Abraçam-se e beijam, sofregamente. A hora deles havia chegado. Vão felizes. Nunca mais serão separados. Seu Albertino tratará de uní-los para sempre, tornando-os uma só carne: comeu o salsichão e a azeitona. Que bendito aperitivo!